segunda-feira, 9 de maio de 2011

REALENGO, BULLYING E BIN LADEN – por Sidney Francez Fernandes

REALENGO, BULLYING E BIN LADEN – por Sidney Francez Fernandes



"Na tragédia de Realengo, ocorrida em abril deste ano, consta que uma das motivações dos crimes teria sido o bullying sofrido pelo autor por parte de colegas da Escola Municipal Tasso da Silveira. E que ele pesquisava muito sobre atentados terroristas e grupos religiosos fundamentalistas."


Tragédias como a de 11 de setembro de 2001, ao que tudo indica arquitetada pelo saudita Osama Bin Laden, e a ocorrida na escola municipal de Realengo, na data de 07 de abril de 2011, causam indignação e revolta. No entanto, se bem analisarmos o comportamento das pessoas, tanto no Brasil como em outros países, talvez cheguemos a conclusões não muito confortáveis.


Pessoas do mundo inteiro, particularmente jovens americanos, comemoraram nas ruas a morte de Bin Laden. Na minha infância, lembro-me da euforia das pessoas quando souberam da morte de Hitler. Foram festas e mais festas, em função das mortes de vilões responsáveis por dores e sofrimentos infligidos a um sem número de inocentes. Sem dúvida, quando nos livramos de uma ameaça, alegramo-nos com o alívio do retorno à tranquilidade e à segurança. Embora compreensíveis, esses comportamentos contemplam a Lei de Talião. Olho por olho, dente por dente, isto é, quem com ferro feriu, merece com ferro ser ferido.


Embora aceitáveis sob o ponto de vista humano, nada mais são do que a celebração da violência que atualmente grassa por todas as nações, desde os mais poderosos líderes, estende-se pelas relações comerciais, permeia os jovens, tanto em suas relações sociais como nos estabelecimentos de ensino, invade nossos lares e contamina nossas famílias.


A mesma violência utilizada por Bin Laden em seus inúmeros ataques terroristas por todo o mundo caracterizou a sua captura. Consta que o ataque dos americanos ao seu esconderijo encontrou-o desarmado e ele teria sido morto já depois de dominado, sem possibilidade de reação. “ – Mereceu!” – Argumenta o mundo. Mas, não foi feito com ele exatamente o que ele costumava fazer com os outros? Só que ele era bárbaro. E nós pretendemos ser corretos e justos.


A mesma violência utilizada pelo jovem ex-aluno da escola municipal de Realengo caracteriza o comportamento de inúmeros grupos que provocam sofrimento, dor, fobia e violência quando a sociedade insiste em não combater o bullying. Essa mesma violência lembra os massacres em escolas americanas como Columbine e Virginia Tech. Mas, lembra também a brutal diferença de condições de vida entre o “sul maravilha” do Brasil e nossos irmãos do interior nordestino. Essa mesma violência caracteriza a vida maravilhosa dos europeus que assistem, de camarote, encostadas, além do Mar Mediterrâneo, inúmeras populações africanas que sofrem de aids, febre amarela, falta de alimentos, de estudo, condições mínimas de sobrevivência como água potável, energia elétrica e moradias, sem falar da opressão de seus ditadores.


Basta que o indivíduo tenha poder, dinheiro, posição ou prestígio para se considerar superior ao pobre ou ao ignorante. A violência financeira de Wall Street faz lembrar “a lei do mais forte”, aonde maquiavelicamente tudo é permitido. “Os fins passaram, de uns tempos para cá, a justificar todos os meios”. E se não fazem as coisas conforme a minha vontade “eu prendo e arrebento”, como diria um conhecido general de triste memória.


O estado de direito que pretendemos que exista não pode coexistir pacificamente com a violência e com a impunidade. Sem nos determos longamente na moral do Cristo que veio substituir a lei da vingança preconizada pela Lei de Talião de Moisés, para não incorrermos em deslocada pieguice, é preciso entender que uma sociedade justa não pode mais tolerar nem violência, nem maquiavelismos, nem impunidade.


Se queremos que nossos jovens passem a ter bom comportamento nas escolas, nos lares, na sociedade enfim, nós adultos precisamos dar o exemplo. O verbo edifica, mas o exemplo arrasta. Impulsionados pelo “modus operandi” das tropas americanas, muitos “justiceiros” serão despertados e, oxalá eu esteja errado, começarão a repetir o infeliz episódio de Realengo em várias partes do mundo.


Violência gera violência. Se queremos que nossos filhos e netos sejam pacíficos, a partir de agora temos que combater a intenção de fazer sofrer do bullying, evitar a opressão sobre subordinados e pessoas social ou financeiramente inferiores a nós e repudiar comportamentos de maus líderes, administradores gananciosos, políticos corruptos e desonestos detentores do poder econômico que insistem em cuidar dos seus próprios interesses e o resto que se dane.


Se queremos uma sociedade melhor, esta é a hora de nos unirmos e darmos o bom exemplo. Precisamos, à medida do possível, começar a superar o trio terrível responsável por todas as dores da humanidade: egoísmo, vaidade e orgulho. Compactuar com o mal é perpetuá-lo.

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