domingo, 21 de fevereiro de 2010

ÂNSIA DE VIVER

ÂNSIA DE VIVER


A definição do vocábulo vida, apresentada por alguns dicionaristas, restringe-se aos fenômenos biológicos, metabólicos, às reações, ao movimento, à reprodução, às atividades orgânicas...

Trata-se, evidentemente, de uma conceituação materialista, porque, na morte, a vida teria o seu encerramento, o que não corresponde à veracidade dos fatos, porquanto as evidências e a documentação a esse respeito são robustas e variadas em todas as épocas da Humanidade e em todos os povos.

Uma enunciação correta deveria esclarecer que ela prossegue depois da disjunção celular, ampliando-se na imortalidade, quando se expressa integral e sem interrupção em toda a sua plenitude.

Considerando-a um feixe de fenômenos comandados por automatismos cerebrais, no caso dos animais, incluindo-se o ser humano, o materialismo deixa claro que a sua finalidade desaparece quando se desarticulam as partes constitutivas do organismo...

Como consequência, tomam corpo as doutrinas do hedonismo e do utilitarismo, mediante cuja proposta viver é uma experiência de curto prazo, na qual o prazer individual deve predominar como programa de referência que justifica o próprio ato de existir. Esse prazer egoístico terminará por tornar-se geral no grupo, já que a vivência de cada qual culmina ao integrar-se na coletividade.

Assim sendo, as dores e as aflições, as dificuldades e as limitações tornam-se aberrações sem explicação, que a umas pessoas alcançam e a outras não, mas que aquelas que as sofrem, não tendo forças para suportá-las, têm o direito de interrompê-las a bel-prazer, evitando padecimentos destituídos de sentido e de significado psicológico...

Em razão dessa postura, a existência física deverá ser aproveitada totalmente, fruindo-se todas as concessões propiciadas pelas faculdades orgânicas, o intérmino prazer que leva à exaustão.

Essa conduta sensualista transforma o ser humano em objeto de uso e gozo, que não merece maior consideração, seja do ponto de vista filosófico como do psicológico.

Sem dúvida, é uma proposta totalmente ultrapassada, em razão da documentação preciosa em torno da imortalidade do ser e dos objetivos relevantes a respeito do seu destino.

Tais atitudes, apresentadas no passado como reação às imposições dogmáticas, poderiam atrair, como aconteceu, muitos simpatizantes, embora a antiguidade dos seus conteúdos, que remontam ao pensamento filosófico ancestral. Na atualidade, porém, face às avançadas pesquisas em torno do Espírito e da sua comunicabilidade, já não encontram guarida nas pessoas que investigam a realidade do ser existencial.

É compreensível que a vida física proporcione prazeres, alegrias e felicidade, que constituem recurso de valioso estímulo a fim de ser conduzida, particularmente quando se sabe da ocorrência dos fenômenos de dor e angústia, de doenças e desencantos que todos também experimentam em maior ou menor grau de intensidade.

A ânsia de vivê-la plenamente é uma necessidade espiritual, que não tem cabida nas experiências sensoriais exclusivas. O ser humano é mais do que o corpo que utiliza no processo de ascensão. Terminada uma etapa experimental, outra surge mais complexa e desafiadora, através de cujo curso alcança os píncaros da alegria sem jaça.

Superando os imperativos utilitaristas estão as emoções estéticas, o júbilo de servir e de desenvolver programas que contribuem para a felicidade das demais pessoas, tornando-a dignificada pelo seu sentido existencial.

Miguel Ângelo, nessa ânsia transcendental, atingiu o êxtase com os seus Moisés, a Pietá, a Capela Sistina...

Beethoven alcançou o ápice da harmonia ao compor a Nona Sinfonia...

Marie Curie, exausta e semi-adormecida, conseguiu o clímax dos júbilos ao ver a irradiação que resultava dos seus experimentos...

Santa Catarina de Siena, mergulhada na contemplação, pairou acima das sensações físicas, na ânsia de sintonizar-se com Jesus...

Estêvão, apedrejado, emergiu das dores físicas e flutuou nas vibrações sutis da liberdade total do corpo vencido.

Cristóvão Colombo entrou em arrebatamento íntimo, ao defrontar as terras que buscava e sabia existirem...

Pasteur, pesquisando sem cesar, delirou de felicidade, ao detectar os microorganismos em cuja existência acreditava...

Todos eles, e inumeráveis outros, experimentaram esse arroubo de ventura incomparável, sem nenhum mecanismo patológico estabelecido pela Psiquiatria.

Lúcidos e integrados na Consciência Cósmica, alcançaram a finalidade da vida a que se dedicaram na Terra.

Mas não somente eles que se celebrizaram, e sim milhões de pessoas equilibradas, idealistas, que pugnaram pelos objetivos anelados e os lograram.

Essa ânsia de vida, que pulsa nos sentimentos e na inteligência dos seres humanos, obedece ao Tropismo Divino que os arrasta na Sua direção.

Eu sou a vida abundante – anunciou Jesus, que possuía os recursos hábeis para todos os gozos humanos. Mas, conhecedor da realidade única, demonstrou desinteresse pelos mesmos, em razão da sua duração efêmera, das aflições que logo surgem, da volúpia que se apresenta na necessidade para novos tentames.

Senhor dos Espíritos, viveu intensamente a alegria de ser pleno, de arrebanhar as criaturas na Sua direção, a fim de conduzi-las a Deus.

Os Seus ensinamentos, saturados de vitalidade, são ricos de beleza e ética, de sabedoria e amor, que constituem a mais salutar terapia que se conhece, tornando-se, nos dias atuais, verdadeira diretriz de saúde e bem-estar para os comportamentos alienados e infelizes.

A ânsia de vida é a necessidade de superação dos limites orgânicos para conseguir-se a amplidão do Infinito.

Livro: Sendas Luminosas
Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito Joanna de Ângelis
Casa Editora Espírita Pierre-Paul Didier
Projeto Saber e Mudar

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